New Directors | New Films
Long Review | Winter Brothers
19.06.2018

Hlynur Palmason | DEN, ISL | 100'

 

 

Depois da curta-metragem “Seven Boats” (2014), Hlynur Palmason, cineasta islandês que trabalha entre o país natal e a Dinamarca, estreia-se na longa-metragem com “Winter Brothers” (2017). Filmado na Dinamarca, em 16 mm, Palmason enovela a violência do seu universo diegético numa textura luminosa e pálida que procura simultaneamente evidenciar o isolamento e a desolação de um lugar remoto que enfrenta um inverno rigoroso.

Da penumbra claustrofóbica de uma mina de pedra calcária, “Winter Brothers” transita para o exterior num contraste flagrante com a luminosidade saturada da fotografia. Mas essa luminosidade não deixa, ainda assim, de carregar a atmosfera pesarosa e lúgubre do lugar de trevas com que o espectador se confronta logo na sequência inicial. Enveredando por vezes pelo onirismo, o filme segue Emil e o seu irmão na labuta diária e no progressivo isolamento, Sobretudo de Emil (numa memorável interpretação de Elliot Cross Hove, vencedor do prémio de Melhor Actor no 70º Festival de Cinema Internacional de Locarno), que mostra dificuldades em estabelecer relações com as pessoas que o cercam. Do prosaísmo do dia-a-dia do mineiro, ao trabalho nas minas e aos furtos de produtos químicos armazenados na fábrica, que ele usa para a confecção artesanal de um licor que se revela nocivo e que culmina na hospitalização de um dos trabalhadores, conhecemos a sua relação com o irmão, com a namorada e com os restantes trabalhadores.

A trama de “Winter Brothers” desdobra-se assim numa reflexão profunda sobre o isolamento, a violência e a incompatibilidade social. É nas intermitências do quotidiano que nos é revelado um «lado negro» do protagonista, como lhe aponta o seu irmão, «um lado negro que todos, no seu íntimo, possuem», replica depois Emil. Mas será esse «lado negro» inato à natureza do protagonista? Palmason não procura oferecer respostas para as questões que levanta nem tece juízos morais, e, no lento encadeamento das imagens, cria uma atmosfera de violência que parece fundir o real com o imaginário. O filme abandona gradualmente (e deliberadamente) a linearidade da narrativa à medida que o espectador vai mergulhando cada vez mais profundamente na revolta de Emil e na sua ânsia de mudança perante um futuro incerto e vago.

 

Por Tiago Vieira da Silva

Retirado do Leuk Jornal | Edição 1 | 18 - 19 JUN 2018