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Long Review | Dementia 13
25.06.2018

Filmado em nove dias e lançado em 1963, “Dementia 13”, de Francis Ford Coppola, conduz-nos a um momento crucial do terror, nos anos sessenta, quando novos autores e novas tendências se afirmaram no redimensionamento do género em diferentes cinematografias.

“Psycho” (1960), também de Alfred Hitchcock, é talvez o filme mais emblemático quando falamos da génese desta importante transição e subsequente evolução do género, que, ao longo da década, se ramificou em olhares distintos e pioneiros, como os de Mario Bava (“Black Sabbath”, 1963), Herschell Gordon Lewis (“Blood Feast”, 1963), George A. Romero (Night of the Living Dead/A Noite dos Mortos Vivos, 1968), só para citar alguns. O reconhecimento e afirmação do género encontrou, no seu trajecto, não só autores, mas também públicos distintos, desde “Les Yeux Sans Visage” (1960) de Georges Franju ou “The Innocents” (1961) de Jack Clayton, filmes que exploraram as potencialidades narrativas do género na sua fusão de drama e mistério, aos filmes de baixo orçamento, ao tratamento inovador do gore, do exploitation e do slasher film, que detiveram grande influência na popularização dos “Grindhouses”.

“Dementia 13” é um dos inúmeros exemplos que se insere na tradição dos filmes de baixo orçamento ou filmes B que pretenderam acompanhar e corresponder à implosão do género durante este período. Seguindo a fórmula ainda precoce do slasher film, “Dementia 13” possui uma galeria de personagens que é perseguida por um assassino cuja identidade só é revelada no final. A partir de um enredo simples, o mistério paira à volta de uma rapariga que morreu afogada no lago da vasta propriedade da sua família no passado, acontecimento que se parece conectar com os assassinatos que começam a ocorrer. Reunindo influências que já se começavam a manifestar nos filmes do género desde “Psycho”, e também desde “Peeping Tom” (1960) de Michael Powell, “Dementia 13” conjuga já elementos icónicos do género (que foram levados ao extremo nas décadas seguintes), não só a nível de temas, mas também na própria gramática e linguagem cinematográfica, desde os enquadramentos à montagem, sobretudo nas sequências do percurso do assassino.

Francis Ford Coppola, creditado no filme apenas como Francis Coppola, não era ainda o realizador consagrado pela trilogia “The Godfather” (1972-1990), ou pelos filmes “The Conversation” (1974) ou “Apocalypse Now” (1979). “Dementia 13” é um filme interessante para aqueles que desejam conhecer a carreira inicial do realizador, revelando-se ademais um curioso exemplo deste período em que o género se revestiu de tão importantes contribuições e inovações.

 

Por Tiago Vieira da Silva

Retirado do Leuk Jornal | Edição 4 | 24 - 25 JUN 2018