New Directors | New Films
Entrevista | Alexandra Wesolowski
19.06.2018

Nascida em Katowice, Polónia, Alexandra Wesolowski estudou ciência política na Friedrich-Alexander-Universität, em Erlangen, e terminou os estudos em realização na University for Television and Film, em Munique. “Impreza – The Celebration” é a sua estreia a solo como realizadora e está em competição para o Lince de Ouro desta edição.

 

Como te tornaste uma realizadora? E porquê de documentários?

Começou com o meu interesse por política e em querer tornar-me jornalista. Durante este processo, a minha visão sobre os media e sobre a verdade foi mudando. Para mim cada filme é um mundo independente a que se pode aceder mas que nunca mostra uma verdade objectiva. Nem em ficção nem em cinema documental. Para mim a diferença entre documentários e ficção está no processo de realização e não necessariamente na sua percepção.

Qual foi o processo por detrás do filme “Impreza”?

Eu fiz bastante pesquisa sobre as raízes do conservadorismo na Polónia e notei que havia uma grande falha na cobertura dos media deste fenómeno. Há uma constante histeria e julgamento moral. Então queria deixar a minha família explicar os seus pontos de vistas e colocá-los no seu contexto. Sem dizer se estão certos ou errados.

Está a ter o impacto que esperavas?

O filme causou muita discussão, mas foi sobretudo sobre o que os media conseguem fazer e sobre o que é esperado de um filme. Considero que é perigoso esperar de um filme mais do que uma história, esperar a verdade. Isso daria aos media muito poder. Filmes são mais sobre perspectiva e estar alerta para todas as muitas e diferentes perspectivas que existem no mundo.

Sendo uma estudante de ciência política, como é que isso influencia a tua visão sobre os temas que trazes para os teus filmes?

Estudar ajuda a encontrar uma visão mais distante de um certo fenómeno, ajuda a, com maior facilidade, conseguir colocar esse fenómeno num contexto ou a analisar outras conexões. Além disso, ter uma visão factual das coisas ajuda a definir qual a perspectiva mais poderosa para contar certa história.

E sendo também uma estudante de cinema, como é que isso afecta o teu trabalho? Achas necessário que um realizador estude cinema?

Fazer filmes tem muito a ver com dinheiro. É necessário ter oportunidades para provar que se consegue gerir o dinheiro e que se consegue produzir algo perto do que se promete no início. As escolas de cinema dão essa oportunidade e também a oportunidade de falhar - essencial para tudo, não apenas para realização.

Fazer documentários é muito sobre capturar o momento certo, quais são as coisas que mais lamentas não ter filmado?

Normalmente falhas quase tudo, mas depois aparecem algumas pérolas e cria-se uma história a partir delas. O público não sabe o que se falhou, por isso não me preocupo. Muitas vezes captas algo e achas que vai ser incrível, mas não funciona como pensavas - às vezes é ao contrário. Isso é uma das razões porque é importante ter um bom editor. Filmar o “Impreza” foi muito diferente dos meus outros trabalhos. Muitos dos planos foram encenados e a estrutura estava bem definida antes de começarmos a filmar. A minha família foi fantástica, depositaram muita confiança em mim e no Denis, o meu DOP. E na verdade, acho que foram mais fáceis de dirigir do que observar.

Alguma vez sentes que estás a ver o mundo através da camera? Ou que não consegues desligar aquela definição de tentar capturar o plano certo?

Sim. Bastantes vezes. Também penso muitas vezes sobre o que observo ou sobre as coisas que me acontecem e se teriam potencial. O que se pode tornar um pouco depressivo às vezes.

Achas que as pessoas ainda têm aquela ideia dos documentários como algo aborrecido?

Eu penso que isso está a mudar, ou pelo menos espero. Acho que as pessoas estão mais alerta para a abrangência do que pode ser um documentário.

Como te sentes por ter um filme a competir num festival?

É ótimo, mesmo. E fiquei muito feliz por ser seleccionada para o FEST, porque adoro a forma como os filmes são apresentados. A vista cinematográfica, o amor e a facilidade. Para mim é mesmo como deveria ser.

E a questão necessária para terminar esta entrevista, o que vem a seguir?

Ainda na semana passada terminámos de filmar uma curta-metragem, uma comédia de ficção científica, então vou estar em pós-produção por algum tempo. Estou também a escrever um argumento para uma longa de ficção, que esperamos começar a filmar no próximo verão.

 

Entrevista por Filipa Fonseca

Retirado do Leuk Jornal | Edição 1 | 18 - 19 JUN 2018