Lince de Ouro — Ficção
—
Isa utiliza um gravador de cassetes para gravar mensagens para si própria, para quando desaparecer ou perder a memória. Cita sente-se presa num casamento e numa casa repleta de santos e virgens. María regressa à sua terra natal para enfrentar a sua solidão. Estas mulheres de uma pequena localidade rural, suspensa no tempo e devastada pelo despovoamento, vivem entre a apatia do seu dia a dia onde nada acontece e um desejo intrínseco de experiências de libertação que as faz redescobrir o lugar onde acreditam ter sido felizes, ou pelo menos, sonhado ser felizes.
É neste cenário e com esta coleção de personagens inesquecíveis que a cineasta Ainhoa Rodriguez cria uma peça cinematográfica única e preciosa, que rapidamente se revela como um dos filmes mais necessários do momento. A condição feminina é explorada de forma impressionante e refinada, sempre dominada por uma qualidade misteriosa, com ecos de David Lynch, que a audiência nacional reconhecerá como inquestionavelmente Ibérica. O filme foi um sucesso instantâneo logo na sua estreia, na última edição do Festival de Roterdão, tornando-se num dos mais badalados filmes de 2021, e que tem tido um percurso invejável no circuito internacional de festivais, onde já arrecadou vários prémios, incluindo o Prémio do Júri em Málaga e o de Melhor Realização em Vílnius. Logo no lançamento da sua carreira, Ainhoa Rodriguez distingue-se como uma voz a seguir com muita atenção nos próximos anos.