Ivo Salvini (Roberto Benigni) é um lunático visionário de alma inocente. Delicia-se com a vida provinciana e nutre um amor desmesurado por Aldina (Nadia Ottaviani), a mulher que ele diz ter o rosto da Lua. Este derradeiro filme de Fellini é um angustiado retrato do louco e do moderno.
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Baseado no romance Il poema dei lunatici, de Ermano Cavazzoni – e recuperando os temas de A Estrada, enquanto parábola dos cândidos que procuram o amor – A Voz da Lua foi o ponto final da obra de Federico Fellini, e uma despedida bastante amarga. Tão amarga que é, muitas vezes, um filme caído no esquecimento, quase como se não existisse. À semelhança de outros títulos imediatamente anteriores na sua obra (Ginger e Fred, Entrevista), apresenta-se como o filme de um luto, que não é o luto do cinema, mas de uma sociedade que tinha o cinema no centro, e aponta claramente um inimigo: a televisão, que em Itália foi o meio diretamente responsável pela ascensão de Silvio Berlusconi (este, inclusive, mencionado no filme).
Fellini morreu em 1993, mas este seu filme anunciava muito do que aconteceu e continua a acontecer na Europa depois da morte dele. A extrema lucidez do maestro sobre a confusão da vida moderna está toda aqui.