New Directors | New Films
“Yardie” de Idris alba (UK) | Secção Panorama | Especial Berlinale 2018
25.02.2018

Haverá coisa mais horrivel do que um ego de uma estrela de Hollywood convencida de que a realização é um passo natural para o seu auto-proclamado talento interminavel?

 

Idris Alba oferece-nos uma resposta convincente em “Yardie”, o seu filme de estreia atrás das camaras, e no processo apunhala pelas costas uma cultura e tradição inteira num filme que pouco mais é do que uma coleção interminavel de clichés com uma excelente banda sonora.

O filme conta-nos a história de D, um jovem jamaicano cuja infância encontra-se com a desgraça quando o seu irmão Jerry Dread, um DJ e activista reputado da Kingston dos anos 70, é assassinado por um mafioso em plena praça publica. D cresce sob protecção de King Fox, um produtor e criminoso que se aproveita do jovem para vincar numa Kingston progressivamente mais controlada pelo crime organizado.

Quando D é enviado para londres pelo seu patrão, reencontra-se com o seu amor de infância e a filha que não via desde a nascença. Mas os maus habitos, temperamento e sede de vingança da morte do irmão desencadeiam uma absurda sequencia de eventos e personagens previsiveis .

A personagem mais interessante de “Yardie” é inquestionavelmente a cultura e som do Raggea que, apesar de amplamente abusada ao longo do filme, finalmente encontra-se de novo retratada no grande ecran. Prevalecem alguns ecos e ambientes do classico de Perry Henzell, “The Harder They Come” (1972), mas infelizmente a falta do charme e carisma de Jimmy Cliff e da lente de Henzell, este retrato da tradição jamaicana rapidamente ofusca tudo numa visão ultra-polida e desinfectada que nada mais tem para oferecer senão uma caricatura mais preocupada em romantizar a violência das ruas de Kingston e londres dos anos 70.

O resultado é um filme profundamente desorientado e embriagado na fama e ego do autor que esperemos não regresse a estar atrás das camaras tão cedo.