O Programa da Indústria da 18º edição do FEST não podia ter começado melhor. Depois de uma tarde de ‘speed meetings’, participantes e convidados tiveram a oportunidade de assistir a uma masterclass sobre ‘storytelling’ dada por Jeff Pope, vencedor de um BAFTA e o argumentista por detrás dos filmes Philomena (2013) e Stan & Ollie (2018).
A sua postura terra-a-terra e acessível durante a sessão criou o ambiente perfeito, no Centro Multimeios de Espinho, para aprender, refletir e colocar questões. É precisamente este processo de questionar, ou ‘ser pago para ser cusco’, como Jeff inteligentemente afirmou, que influenciou a carreira do argumentista nomeado a um Óscar, desde a sua passagem pelo jornalismo até ao seu trabalho como argumentista e produtor. Pope conseguiu dominar a arte de passar para o ecrã histórias reais com reviravoltas tão inesperadas que nenhum escritor de ficção as poderia conjurar.
“Saber que a história aconteceu de verdade adiciona uma dimensão extra”, foram as palavras de Jeff ao descrever o seu amor por histórias reais e criminologia e como este sempre o acompanhou tanto no jornalismo como no cinema.
Jeff defende que os escritores devem abraçar a arrogância inerente proveniente de ser escritor e tomar as decisões no que toca a como uma cena irá ser concebida. Não obstante, essa confiança no seu trabalho deve provir do extenso conhecimento e pesquisa sobre a história a ser contada.
A sua pesquisa passa também por conhecer, se possível, e construir uma relação de honestidade e confiança com as pessoas que quer retratar. De forma descontraída e concisa, após mostrar excertos de diversos projetos seus, o argumentaria explicou como concebeu as cenas e como o seu contacto com as pessoas reais, assim como o processo criativo por detrás, contribuiu para a criação do projeto, com destaque para a existência de um pouco de humor no meio da tragédia.
A verdade por detrás das histórias e as experiências humanas é o que, na visão de Pope, previne que existam clichês, um tema frequente durante toda a sessão. Dando uso à metáfora do iceberg, o argumentista aconselhou a não nos deixarmos cegar pelo título da notícia, afirmando que este constitui apenas a ponta do iceberg. O importante é encontrar o ADN da mesma, aquilo que a torna única.
Qualquer pessoa interessada em escrever para o grande ecrã, seja sobre histórias reais ou ficção, irá certamente ter encontrado valiosos conselhos e dicas nesta masterclass. Afinal, é por estas razões que Pope valoriza este tipo de eventos, por poder passar o seu conhecimento a uma nova geração de escritores. Se quisermos reter apenas uma mensagem será a que “todos cometemos erros e ser honesto sobre isso irá sempre ajudar alguém”. Mesmo Jeff Pope tem medo de “uma página em branco”.
Carolina Gonçalves e Francisca Tinoco