“Django” de Etienne Comar Berlinale 2017
11.02.2017

O Festival Internacional de Berlim abre a edição de 2017 com uma primeira obra dedicada à atribulada vida do idolo do jazz cigano: Django Reinhrdt.

 

Etienne Comar não é exactamente uma figura desconhecida do circuito internacional de festivais, alcançando bastante reconhecimento como produtor de obras de relevo como “Timbuktu” de Abderrahmane Sissako ou “Dos Homens e dos Deuses” de Xavier Beauvois. No entanto como realizador, Comar permanecia uma incognita. Isto é até ao Festival de Berlim anunciar, para surpresa geral, que a edição de 2017 iria abrir com a sua primeira longa-Metragem, “Django”, um filme biográfico que retrata a vida de um dos maiores icones da musica da primeira metade do seculo XX, Django Reinhrdt.

A aposta de risco dificilmente podia ter sido menos bem sucedida, já que “Django”, apesar de inspirado numa figura que ao longo dos tempos não só se destacou por um invulgar talento musical mas também como simbolo da resistência do povo Roma ao holocausto, é um filme extremente desiquilibrado e perdido.

No inicio “Django” começa como tantos outros filmes do genero, retratando um homem livre e despreocupado em cumprir horarios ou satisfazer audiências, confiante no seu raro talento, capaz de converter todo o tipo de plateias apesar das suas raizes ciganas numa era prestes a ser dominada pela intolerancia.

Com o aproximar das tropas nazis ao território francês o filme rapidamente assume um tom mais escuro e menos jubiloso, com o protagonista a iniciar uma longa fuga indiferente ao reconhecimento geral de que era frequentemente alvo antes do inicio da guerra.

A transição entre os dois momentos é pouco subtil, temperando todo o filme com um paladar incosso que impera de tal forma, tornando a experiência de “Django” pouco mais do que uma enumeração de desgraças e desaventuras. Tendo em conta a emoção perpetua da vida do verdadeiro Django, é curioso como Comar conseguiu despir o seu primeiro filme de uma alma que deveria ser intrinseca.      

O sempre cativante Reda Kateb, no papel de Django, bem se esforçou para reverter este destino, tal como a hipnotizante Cécile de France, que cada vez mais se revela como uma atriz de enorme maturidade. Mas os muitos buracos destapados no guião, e acima de tudo um certo dernorteio na direção tornaram todos os esforços em vão.  

A figura de Django tem vindo a ser ao longo dos ultimos anos alvo de muitas referências no cinema, mas este ultimo esforço de Etienne Comar conseguiu reduzir a estranha e atribulada vida do grande icone da cultura cigana numa experiencia pouco ou nada memoravel

Por Fernando Vasquez