“Divino Amor” de Gabriel Mascaro (Brasil) – Secção Panorama - Berlinale 2019
15.02.2019

Pontuação: 4/5

Num momento em que o Brasil vive estampado nas primeiras páginas pelas piores razões, um dos seus mais notáveis artistas, Gabriel Mascaro, reaparece em cena com um filme de ficção científica como nunca antes tínhamos visto.

“Divino Amor” leva-nos ao Brasil num futuro próximo, onde a religião assumiu um papel quase totalitário na cultura brasileira, transformando-a e a si própria. Neste contexto, as igrejas como espaços, deixaram de desempenhar um papel relevante. Agora, as missas ocorrem em grandes palcos ao ar livre, tornando-se em raves parties, com tecno cristão e tudo, que substituíram o carnaval em termos de importância para a nação.

A igreja do Divino Amor é uma das instituições que mais devoção provoca nos seus fiéis, e uma das pioneiras nesta transição social, cultural e política, colocando um enorme foco nas relações humanas, em particular entre casais. A melhor prova disso será a protagonista desta história, Joana, uma mulher que trabalha nos registos civis brasileiros e que sente constantemente a necessidade de tentar impedir que casais se divorciem, oferecendo-lhes uma experiência única na sua igreja.

Mas eventualmente Joana vai-se ver confrontada com as incongruências de todas as igrejas, e terá de por em questão a sua fé, o seu grupo e até o seu próprio casamento.

Mascaro cria um mundo de espiritualismo, amor, orgias e neons que se revela como sedutor até para o mais fundamentalista dos ateus, e tudo num formato muito invulgar para o autor, que se tornou numa figura de proa com obras como “Boi Neon”, vincando estéticas muito diferentes. Regressa agora com um filme que pode facilmente ser atacado por se assemelhar ao modelo visual de um telenovela, mas que na realidade esconde vários momentos de génio entre as linhas, tornando-o numa experiência obrigatória, e elevando Mascaro a mais um novo patamar.

Por Fernando Vasquez