New Directors | New Films
Curtas de Experimental e Animação | 23 Junho
23.06.2017

É interessante ver como os formatos experimental e de animação têm sido constantemente explorados, e mesmo assim continuam a revelar obras que se destacam pelo seu carácter inovador, inventivo, com uma estética muito singular. A mistura de estilos, experimentações técnicas, narrativas e as influências diversas vieram libertar, tanto o cinema experimental como o de animação, de modelos e paradigmas, redefinindo a sua forma e por vezes fundindo ambos os formatos, como desvendamos nestas duas selecções de filmes que se encontram na competição do Lince de Prata desta edição.

A selecção das curtas-metragens experimentais e das curtas-metragens de animação apresentam filmes surpreendentes, que reúnem precisamente todas estas transformações e experimentações que têm marcado ambos os formatos nos últimos tempos – são nove curtas-metragens experimentais e dez curtas-metragens de animação.

Nas curtas-metragens experimentais, deparamo-nos com obras provocadoras, sedutoras do ponto de vista temático e visual, como o hipnótico It Is my Fault (2016) de Liu Sha, uma experiência sensorial que se serve das imagens surreais, grotescas, carregadas de cores, e da música em 8 bit para magnetizar o espectador e ao mesmo tempo despertar-lhe sensações distintas. Por outro lado, Apocalypse (2016), de Justyna Mytnik, conserva a estrutura e o ritmo ponderado de um simples drama familiar, neste caso, do quotidiano de um casal jovem, porém, com uma ambiência abstracta através da animação 3D. Vensolin (2016) de Hansje Hofland é um filme provocador sobre uma ressaca intergalática, e Simba in New York (2016) de Tobias Sauer, uma viagem emocional à luz da desmitificação do “Sonho Americano” através de vários segmentos de vídeos, desde os filmes da Disney a imagens de arquivo.

Na selecção das curtas-metragens de animação, encontramos a crítica social em Ascribed Achievements (2016) de Samaneh Shojaei, estudo sobre o poder manipulador das novas tecnologias na percepção que temos de nós mesmos, e em Framed (2016), de Marco Jemolo, filme em stop motion sobre o autoritarismo e a opressão que nos faz recordar bastante o universo de Franz Kafka. Encontramos também o caricato Pussy (2016) de Renata Gasiorowska, uma íntima exploração da masturbação feminina através de uma narrativa que vai tomando contornos surreais. Em Locus (2016) de Anita Kwiatkowska-Naqvi, encontramos espaços que parecem feitos de cristal, criando um universo visualmente muito belo, poético, onde se desenrola uma viagem de comboio que é ao mesmo tempo a viagem interior de uma mulher que vai mergulhando cada vez mais densamente nas suas memórias íntimas. Já Lupus (2016), de Carlos Gomez Salamanca, inspira-se no caso verídico de um homem que foi assassinado por uma matilha de cães; através de imagens 3D do bairro onde isto sucedeu - que procuram simular as imagens de videovigilância - vamos presenciando o desenrolar da história até ao trágico desfecho final. Mas ficou muito por dizer, já que ambos os programas possuem outros filmes igualmente surpreendentes e imperdíveis, cujo visionamento é obrigatório.

Tiago Vieira