New Directors | New Films
Programa de Indústria — Destaques do quarto dia
09.10.2021

Na sexta-feira, a seleção do programa de indústria do FEST trouxe a um Espinho soalheiro um mix eclético de palestras.

Depois de um dia focado nos direitos e perspetivas futuras de performers e atores, e uma jornada de palestras sobre produção virtual, o FEST estendeu a sua esfera a outras áreas de interesse, igualmente essenciais, para todos os profissionais da indústria do cinema, solidificando, assim, o cariz amplo do seu catálogo didático.

Leo Hugh-Jones trouxe conhecimentos valiosos sobre direito do entretenimento para a sua masterclass - a primeira do dia - encorajando todos os participantes a esclarecer qualquer dúvida acerca de problemáticas como life rights, direitos de imagem, privacidade e verdade no que respeita a pessoas retratadas em filmes e media no geral. Direito é um campo complexo e esta sessão permitiu à audiência obter conselhos em primeira-mão de uma estabelecida e experiente advogada de direito do entretenimento. Hugh-Jones deu uma apresentação detalhada dos meandros, riscos e consequências de usar a vida de uma pessoa como material de fonte para uma produção cinematográfica ou televisiva e deu, com gosto, a palavra a participantes com perguntas e preocupações.

A tarde levou-nos a explorar o estado atual do mundo cinematográfico. Streaming, o grande motor de controvérsia dos debates em tempos de Covid, esteve sob o bisturi na palestra do jornalista e professor Martin Dale, particularmente a forma como esta nova paisagem mediática irá e tem vindo a afetar a produção cinematográfica independente. Dale proporcionou uma análise estatística extensa do choque entre sucesso comercial e o reconhecimento da crítica, que tem visto filmes aclamados e celebrados falhar na bilheteira, onde os grandes blockbusters reinam. 

Filmes independentes, o orador realçou, beneficiam fortemente do circuito festival, para o qual o FEST contribui desde 2004. Seja como for, a tendência é um movimento na direção das plataformas online de streaming, com os números das bilheteiras a tornarem-se menos relevantes que os números de subscritores. A boa notícia é que streamers como a Netflix estão cada vez mais interessados em hubs de produção local que já originaram êxitos culturais de peso como La Casa de Papel e o “fresquinho” Squid Game, estendendo como nunca as conversas relativas à media visual a um nível internacional. A inclinação para os filmes de género é, de acordo com Dale, um caminho igualmente valioso para produtores independentes interessados em sucesso comercial. 

O FEST também abordou uma das questões mais vitais de qualquer área - a saúde mental -, trazendo-a para a realidade específica do cinema. Através de videoconferência, Claire Cordeaux, Anushka Tanna and Phoebe Butler, membros da British Association for Performing Arts Medicine (BAPAM), juntaram-se ao festival desde o Reino Unido, para explorar este assunto, que tem tanto de importante como de sensível. Profissionais das artes performativas são particularmente suscetíveis a sofrer de problemas de saúde mental e física, dado a pressão emocional a que a produção artística pode obrigar, assim como condições extraordinárias, como incerteza financeira, falta de sono e falta de controlo sobre os próprios horários. Cordeaxu, CEO da BAPAM, explicou os diferentes riscos associados ao sector e ofereceu informação valiosa sobre como performers podem vigiar a sua saúde, e como a indústria pode e deve ajudar. Tanna, chefe clínica na BAPAM, aprofundou o tópico da saúde mental, abordando os diferentes sinais e sintomas, assuntos como o perfecionismo e method acting, e a forma como o stigma social pode dificultar o diagnóstico.

 

Artigo redigido por Francisca Tinoco.