Tesouros, perolas e armadilhas da Berlinale 2019
17.02.2019

Num programa tão vasto como o que habitualmente o Festival Internacional de Berlim nos oferece, nunca faltam autênticos tesouros escondidos, nem filmes que prometem muito mas que se revelam como fracassos monumentais. Propomos por isso uma viagem relâmpago por alguns destes casos especiais que todos deviam procurar ou evitar nos próximos meses.

“Monos”  de alejandre Landos (Colombia) – Panorama

Pontuação: 5/5

Desde a estreia em Sundance em Janeiro passado que esta primeira obra do colombiano Alejandre Landos não para de ganhar adeptos, e o caso não é para menos. Não faltarão oportunidades para se falar deste filme que já se tornou instantaneamente numa obra de culto, uma espécie de “Apocalipse Now” adaptado à experiência guerrilheiras nos andes e selvas colombianas, através de uma viagem alucinada por entre o recrutamento, treino e actividade de um grupo de adolescentes que progressivamente ficam enlouquecidos pela poder das armas e do isolamento. Inquestionavelmente já um dos melhores filmes do ano.

 

“37 Seconds” de Hikari (Japão) – Panorama

Pontuação: 4/5

Uma das grandes surpresas foi este primeiro filme da cineasta japonesa Hikari, que nos leva por uma viagem maravilhosa pelo mundo de uma jovem rapariga com enormes limitações motoras, mas com uma imaginação e vontade muito fértil. O filme ousa abordar temas como a sexualidade dos grupos mais marginais da nossa sociedade, os enfermos encarcerados em cadeiras de rodas ou simplesmente acamados. E fá-lo de uma forma tão elegante, solidária e interessada, que enche esta obra de um charme sem igual, tornando-a verdadeiramente obrigatória.

 

“Fukuoka” de Zhang Lu (Coreia do Sul)– Forum

Pontuação: 4/5

Zhang lu não é de todo um desconhecido destas lides e regressa com um triângulo amoroso de longa data e o fantasma que obriga dois velhos amigos de relações cortadas a reviverem o passado. De uma forma calma, sóbria e encantadora, o cineasta Coreano força-nos a reflectir sobre a memória e o tempo do tempo, em mais um filme que merece ser revisitado em diversas ocasiões.

 

“Searching Eva” de Pia Hellenthal (Alemanha) – Panorama

Pontuação: 3/5

A Berlinale sempre foi notória por incluir alguns dos documentários mais provocadores do ano, e em 2019 voltou a não desiludir. De todos, talvez o mais badalados foi mesmo este “Searching Eva”, que nos apresenta a uma mulher francamente perturbada mas disposta a abrir o jogo por completo, numa retrato extremamente intimo e intimidatório que ainda vai dar muito que falar, e que aborda a temática do feminilidade neste inicio do século XXI com uma frontalidade louvável mas assustadora.

 

“Born in Evin” – Maryam Zaree (Alemanha) – Panorama

Pontuação: 3/5

Ainda na área do documentário não há como não mencionar este “born in Evin” daquele que é uma das actrizes em ascensão do cinema alemão, e que agora se redescobre num documentário em que revisita as suas raízes iranianas após descobrir que nasceu numa das mais notórias prisões em Teerão, quando a sua mãe tinha sido aprisionada pelo regime islâmico. O filme fala-nos sobre identidade e como toda uma comunidade prefere o silêncio como forma de estancar feridas muito profundas.

 

“A Russian Youth” de Alexander Zolotukhin – Forum

Pontuação: 3/5

Uma das experiências mais memoráveis tem forçosamente de ser este trabalho do cineasta russo Alexander Zolotukhin que através do uso de equipamento dos primórdios históricos do cinema, elaborou uma histórica ao estilo clássico russo, sobre a nefasta experiência da primeira guerra mundial. O filme tem diversas limitações, por razões óbvias, mas garante ser uma experiência obrigatória para todos os cinéfilos.

“Light of My Life” de Cassey Affleck – Panorama

Pontuação: 3/5

Enquanto Hollywood ainda debate sobre o que fazer em relação às acusações de abuso sexual e de poder de que Cassey Aflleck foi acusado, o actor/realizador norte-americano reaparece discretamente com um filme surpreendentemente interessante e profundo. A acção desenrolasse num futuro distópico em que um pai tenta salvar a sua filha de um universo em que as mulheres se tornaram uma raridade e como tal os homens objectificaram-nas de forma ainda mais grotesca. O tema não deixa de ser irónico, e apesar do mercado cinematográfico estar infestado de obras do género, este “Light of My Life” esconde em si muito de bom, em particular uma química muito forte entre personagens e actores.

 

“Skin” de Guy Nattiv (EUA) – Panorama

Pontuação: 2/5

A famosa curta-metragem sobre um movimento de extrema-direita particularmente cruel e perigoso é agora adaptada ao formato de longa-metragem e no final é difícil não perguntar porquê? Afinal de contas, não tem absolutamente nada de novo a acrescentar, apesar da performance de Jamie Bell, que bem tenta salvar um enredo que se revela demasiado curto, e que precisava de um trabalho de argumento mais completo.

 

“Photograph” de Ritesh Batra (India) – Berlinale Special

Pontuação: 2/5

O cineasta do êxito “Lunchbox” regressa neste início de ano com dois filmes. Na Berlinale estreou este “Photograph” que nos conta a história de um jovem que ganha a vida a tirar retratos de turistas nas ruas e que se apaixona por uma rapariga de classe alta descontente com as pressões da sua família e condição. Desesperadamente romântico, é um filme que funcionará entre audiências indianas e locais, mas que terá muita dificuldade em competir com exemplos do género feitos no ocidente.

 

“Mr Jones” de Agnieska Holland (UK) – Competição Oficial

Pontuação: 1/5

Até Agnieska Holland é capaz de falhar. A grande mulher do cinema europeu, que à décadas produz alguns dos mais poderosos trabalhos que Berlim já teve a oportunidade de estrear, regressa com o retrato do jornalista britânico que revelou a fome causada por Estaline na União Soviética. O filme tinha tudo para ser bom, mas por mil e uma razões, é um fracasso que esperemos que seja rapidamente corrigido pela autora.