Pontuação: 2/5
O Festival Internacional de Berlim volta a fechar ais uma edição repleta de cinema brasileiro, mas foi no final que surgiu a mais ambiciosa do país sul-americano, a primeira longa-metragem de Wagner Moura, “Maringhella”, que pretende oferecer um retrato detalhado sobre a vida do líder revolucionário brasileiro que conduziu uma revolta armada contra a ditadura brasileira.
O timing do lançamento do filme não podia ter sido mais adequado, com o país claramente dominado por uma corrente que branqueia frequentemente o papel nocivo que a ditadura militar teve no Brasil pré-democracia. Wagner Moura, infelizmente, responde na mesma moeda, com uma visão extremamente simpatizante com uma personagem de inegável importância, mas bastante mais complexa e contraditória do que o filme ousa abordar, tendo sido também responsável, ou pelo menos co-conspirador, de uma serie de atrocidades. Obviamente que ao abordar tal tema é preciso fazer-se um grande esforço para que se entenda o contexto histórico e que se estabelece um constante jogo de equilíbrio de forma a ganhar a perspectiva adequada. Wagner Moura renuncia esse papel de todo, romantizando, por vezes de forma demasiado exploradora, toda dinâmica dos actos terroristas de grupos como a Acção Libertadora Nacional (ALN) e o famoso Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).
Este novo olhar sob Carlos Maringhella exigia muito equilíbrio, apesar da tentação de simplificar e oferecer uma contra-resposta à lógica bolsonarista que é, inquestionavelmente, também ela simplicista.
Ao ser incapaz de procurar um equilíbrio lógico, Wagner Mouro criou um filme de acção, com uma certa crítica histórico-política, sobre um pseudo-santo revolucionário dos tempos empoeirados do século XX.
Todos aqueles que preferirem algo menos sensacionalista continuarão a encontrar em “O que é isso companheiro” de Bruno Barreto uma obra muito mais capaz de interpretar esse período negro da história brasileira
Por Fernando Vasquez