“Una Mujer Fantastica” de Sebastian Lelio (Chile)
17.02.2017

O cineasta chileno Sebastian Lelio revela mais uma vez uma capacidade invulgar para retratar o universo feminino no seu mais recente trabalho: “Una Mujer Fantastica”.

Em 2012 o chileno Sebastian Lelio chegou a Berlim comuma autêntica bomba. “Gloria”, um retrato de uma mulher em plena crise de meia idade, fez furor e anunciou a chegada de mais uma figura singular do novo cinema latino americano. Este ano o realizador regressa com uma nova abordagem sobre o que é ser mulher no seculo XXI.

“Una Mujer Fantastica” conta-nos a historia de Marina (Daniela Vega), uma emprega da mesa transsexual que partiha o seu tempo livre entre o palco de um clube nocturno e uma enorme paixão por Orlando (Francisco Reyes), um homem mais velho que deixou a familia para apostar tudo numa relação não aceite pela maioria dos seus pares.

Quando Orlando morre inesperadamente Marina vê-se obrigada a enfrentar toda a familia e uma sociedade que não lhe permite assistir ao funeral quanto mais exteriorizar a grande magoa que sente.

Tal como em “Gloria”, Lelio volta a mostrar mias uma vez uma enorme sensibilidade e sobriedade no que toca a retratar o verdadeiro papel de uma mulher na sociedade contemporanea, sempre norteado por um tom discreto e introspectivo, num filme que facilmente poderia cair na mera caricatura.

Marina é uma personagem extremamente rica. Rejeitada pela sociedade latina onde a transexualidade permanece um tabu, Marina encontra um refugio solidário em Orlando, que a estimula a perseguir o seu sonho de enfrentar os palcos. A morte de Orlando vai muito além de uma perda pessoal, tratando-se mesmo de um potencial fim da esperança de uma vida normal.

Quando Marina tenta homenagiar o seu par, a familia original de Orlando desdobra-se em tentativas intimidatórias, verbais e fisicas, para a impedir. O aparato do estado não lhe fica atrás, com a própria policia, encabeçada por uma agente feminina, a suspeitar do papel inocente de Marina no repentino falecimento de Orlando

Lelio consegue no entanto não se limitar a uma só perspectiva, sendo capaz de se mostrar generoso também com as personagens que consideram Marina uma aberração. E é neste jogo compreensivo que Lelio torna “Una Mujer Fantastica” numa experiencia extremamente gratificante. Ao não simplificar o processo de aceitação, ao não reduzir tudo a um espectro de opressor e oprimido, cria o que possivelmente será um dos mais completos e exaustivos estudos da transexualidade.

Por Fernando Vasquez