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“Unsane” de Steven Soderbergh (EUA) | Fora-de-Competição | Especial Berlinale 2018
24.02.2018

É raro o ano em que não somos bombardeados com a noticia de que o realizador Norte-Americano Steven Soderbergh vai finalmente abandonar o cinema. 

No entanto, para quem está num estado perpetuo de iminente retirada de cena, o homem que se tornou na primeira grande estreça do cinema indie é dos artistas mais prlíficos da industria.

Só este ano lançará uma serie televisiva, e prepara já duas longas-metragens para 2019. Entretanto chega a Berlin para apresentar “Unsane, para nos apanhar todos desprevenidos com uma incursão pelo mundo do thriller ao estilo B-Movie, que, provando que apesar dos rumores ou algums entrevistas menos conseguidas, aparentemente, ainda nos tem muito para dar.

“Unsane” tem como protagonista Sawyer Valentini (Claire Foy) uma jovem mulher recem chegada a uma nova cidade, para onde fugiu de um stalker, David Strine (Joshua Leonard), que lhe transformou a vida num autêntico martirio. Ainda atormentada por visões do seu inimigo, decide visitar um hospital que lhe apaziguo o espirito. A decisão não se poderia revelar como mais precipitada, já que acaba presa num enredo Kafkiano que a leva de volta para os braços do seu antagonista.

É neste cenário que “Unsane” pretende desorientar e enclausurar a audiencia, alimentando um ambiente clautrofobico, sem saída e sem solução, abrindo portas à resignação, enquanto deambula em direcção do seu principal motivo: a obssessão.

Para este fim Soderbergh imprime um data de truques só disponiveis aos mais confiantes e experientes. A opção de filmar o filme inteiramente em Iphone, e em particular num Aspect Ratio no minimo insolito (1.56.1) não é de todo acidental, já que desta forma todos os enquadramentos são obrigatóriamente fechados e enjaulados. Os frequentes close-ups, worm e bird-eye-views oferecem à experiença de “Unsane” uma sensação de vigilância, de falta de privacidade, permitindo-nos viver a sensação de perseguição e invasão que só um Stalker obssessivo pode condenar.  

Claire Foy revela-se como uma das novas figuras mais interessantes do momento, com uma performance norteada por um enorme sentido de timing comico, sarcasmo, explosividade e carisma que alimenta o filme do primeiro ao ultimo frame. O argumentista de Jonathan Berstein tem obrigatóriamente que recolher parte das culpas, já que a solidez da personagem deve muito a um guião impecavel, sempre pronto a quebrar a tensão no ponto de ebulição com um humor implacavel.  

Sob a aparencia de um thriller fiel às regra do genero, que nunca chega a verdadeiramente disputar, o mais recente trabalho de Soderbergh ultrapassa-se pelas pinceladas de um cineasta confiante no seu talento e capacidades e num guião com todos os buracos muito bem tapados.