Os cenários minimalistas que tornaram Kaurusmaki numa referência impar do universo do cinema Europeu permanecem, tal como o habitual sentido de humor surreal tão tipico da região e que o próprio Kaurusmaki tornou popular. Neste sentido este regresso do rei do cinema finlandês significa mais do mesmo. No entanto, é na temática que “the Other Side of Hope” se torna particularmente relevante e impressionantemente imperativo.

O filme apresenta-nos a Khaled, um jovem Sírio que procura asilio na finlandia, depois de uma longa e complicada viagem ao longa das duas pontas do continente Europeu. Perdido entre as paredes gelidas do centro de refugiados, vai divagando entre conversas timdas com os outros refugiados e lembranças da sua irmã que perdeu ao longo do caminho.

Em paralelo aparece-nos Wikhström, um cinquentão endinheirado mas simples que decide mudar de vida ao comprar um dos mais sui generes restaurante e bar enfiado num beco. Wikhström mantem o staff do antigo proprietário, mas oferece-lhes a oportunidade de desenvolver um conceito para o bar. Obviamente que no universo de Kaurusmaki, onde as personagens são sempre forçosamente unidimensionais, a adaptação da equipa é meramente residual. As caras continuam enfadadas, os cigarros continuam na ponta dos lábios e na realidade pouco ou nada muda.

Quando Khaled vê o seu pedido de asilio recusado decide fugir do centro de detenção, acabando no mesmo beco que Wikhström, que o acolhe de braços fechados e distantes, mas inevitavelmente solidários, sempre pronto a desafiar a vigilancia das autoridades.

Entre a tematica provocadora e o humor temperado e hilariante, Kaurusmaki completa a sua tela com inumeras sequencias musicais, onde vários musicos de folk/rock envelhecidos, velhas glorias da world music, adicionam a sua dose de paixão poeirenta a esta história profundamente europeia e contemporanea.

“the Other Side of Hope” é um regresso em grande estilo do mestre Kaurusmaki e possivelmente o seu mais vital trabalho em pelo menos uma decada.

Por Fernando Vasquez