“On Body and Soul” de Ildikó Enyedi (Hungria) Berlinale 2017
16.02.2017

Parece haver já um vencedor antecipado em Berlim após a estreia do mais recente filme da veterana Ildikó Enyedi

“On Body and Soul” é inquestionavelmente uma das experiencias mais memoraveis a retirar desta edição da Berlinale, um filme de sensibilidade e perspectiva unica, que desde os primeiros minutos ameaça levar a audiência a lugares onde raramente nos permitimos visitar.

O filme começa com uma longa sequencia onde somos forçados a assistir ao abrir de um novo dia num matadouro. De uma paisagem selvagem seguimos a chegada dos trabalhadores, o ligar das maquinas e o desenrolar da matança. É preciso de um estomago reforçado para enfretar esta sequencia, que nos introduz a um estado de espirito que domina todo o filme. Não se trata necessáriamente de um sentimento nem muito menos uma aversão, mas sim um ambiente, aparentemente esteril e frio, mas organizado, metodico e certeiro.

A protagonista, Maria (Alexandra Borbély) é responsavel pelo controlo de qualidade da carne prestes a ser introduzida no mercado. A sua atenção obssessiva ao detalhes contrasta com a sua total incapacidade de criar qualquer ligação humana com os seus pares. Tal como a natureza do seu trabalho, Maria aparente uma esterilidade e frieza invulgar.

Endre (Géza Morcsányi), o gerente do matadouro, não é muito diferente. Respeitado mas distante, apesar de mais velho e à vontade, não demonstra qualquer abertura pessoal aos seus colegas e subitos.

As duas personagens, semelhantes em vários aspectos, partilham muito mais do que uma forma, ou falta de, relacionamento com o mundo. Ambos partilham o mesmo sonho, todas as noites. O fenomeno aproxima-os, iniciando-se assim uma das mais insolitas histórias de amor no cinema contemporaneo.      

Dos muitos elementos que tornam “On Body and Soul” num filmes mais que obrigatório, a performance de Alexandra Borbély é aquele que mais se destaca. A jovem atriz é capaz de criar, com pouquissimos apetrechos, uma mistura saudavel e cativante de fragilidade e indiferença ao mundo.

Por Fernando Vasquez