New Directors | New Films
Entrevista | Pedro Lino
22.06.2018

Português de natureza, londrino de hábitos, Pedro Lino estudou arte e design antes de se dedicar ao cinema. A sua primeira longa-metragem, “Lupo”, fez parte da selecção oficial de Locarno. Concorre nesta edição para o Lince de Ouro na categoria Documentário.

 

Sendo um novo realizador, consideras que é dado o devido valor às novas vozes do cinema?

Como em todas as áreas, é sempre complicado começar, mas acredito que quem tem algo honesto e original para mostrar tem o seu lugar mais cedo ou mais tarde.



Como surgiu o cinema na tua vida?

Como tantos outros, o cinema sempre esteve presente na minha vida como espectador. Desde muito pequeno que sempre me interessei por filmes, embora nunca tivesse planeado ser realizador. Mas a vida parece ter sempre uma maneira de nos encaminhar para os lugares certos e acabei por naturalmente começar a realizar.



Quais são os principais desafios que tens enfrentado ao entrar na área?

O principal desafio sou eu próprio, ou seja, a minha decisão de trabalhar em cinema e qual a direção a tomar em termos dos projectos que devo seguir. Como tenho vários interesses diferentes, tenho tentado focar-me em perceber o que me interessa mesmo fazer, e qual a melhor forma de exprimir o meu ponto de vista.

Fizeste tanto ilustração como documentário como ficção, quais as maiores diferenças entre os vários estilos?

Obviamente existem muitas diferenças em termos técnicos e formais, mas para mim são todos veículos para o mais importante, que é contar uma boa história.

Fazer de um documentário algo mais que a simples apresentação de factos é um desafio, como te surgiu esta ideia e como foi torná-la real?

Encontrei a história de Rino Lupo por mero acaso, mas desde o início que fiquei ‘agarrado’ a ela. Entre a ideia de fazer um documentário e tornar o projecto real foi um período de gestação muito longo (10 anos). Na altura trabalhava em cinema de animação e não me imaginava a fazer documentários. Mas o"Lupo" estava sempre na minha cabeça. Quando o filme foi apoiado pela Ukbar Filmes, que sempre se interessaram muito pelo projecto, é que as coisas se começaram a desenvolver mais seriamente. Depois conseguimos o subsídio do ICA para a produção e trabalhei no filme durante os últimos três anos, desde a rodagem até à montagem final, que foi acabada há poucos meses.

 

Esta é a tua primeira longa-metragem, o que consideras necessário para passar de fazer curtas para longas?

Apenas a vontade de fazer. Acho que as curtas muitas vezes servem para procuramos a nossa voz e experimentarmos ideias e conceitos mais abstractos. Quando passamos para uma longa, obriga a uma estruturação maior, a uma vertente narrativa mais forte.

 

Há uma sensação estranha quando se termina de ler um livro ou ver uma série, também sentes isso quando terminas um filme? Qual o teu processo para passar de um projecto para o outro?

Terminar um filme é muitas vezes também uma sensação de alívio muito grande! O processo de fazer um filme é muito demorado e não somos a mesma pessoa que teve a ideia inicial, quando anos mais tarde temos a sorte de apresentar o filme ao público. De qualquer modo, durante o longo processo, normalmente nascem ideias para outros e é importante começar a fazer planos para o próximo.

 

Os teus trabalhos já foram exibidos um pouco por todo o mundo, como tens sido recebido nos diferentes locais?

Em geral, o meu trabalho tem sido sempre bem recebido, como vivo e trabalho em Londres há bastantes anos é engraçado ver a reação de culturas diferentes ao mesmo trabalho. Muitas vezes o que uns consideram uma virtude outros consideram um defeito.

 

Que histórias pretendes contar a seguir?

Tenho interesses e trabalho desenvolvido em muitas áreas diferentes e gostava de continuar a trabalhar e experimentar em vários formatos, desde séries a filmes. Mas reparo que gosto sempre de contar histórias de um personagem, o indivíduo contra o mundo. Depois de andar a perseguir o Lupo pelas cidades da Europa, quero descobrir mais sobre um explorador português que foi um dos primeiros a subir o Amazonas no século XVI.

 

Entrevista por Filipa Fonseca

Retirado do Leuk Jornal | Edição 3 | 22 - 23 JUN 2018