Training Ground
ENTREVISTA | MELISSA LEO
23.06.2017

Falamos sobre actuação, aprendizagem, e interpretação de mulheres fortes com a atriz Melissa Leo, vencedora de um Oscar.

 

São várias as vezes que interpreta mulheres muito fortes e complexas – são estes os papéis que procura?

 

Quando comecei a atuar, foram-me oferecidos papéis de prostitutas ou mulheres muito maltratadas, incluindo uma vítima de violação com base numa história verídica. Um amigo referiu que eu estava sempre a interpretar o papel de vítima, então acabei por me aperceber de que eu não queria continuar a fazê-lo. Realmente, esse facto fez toda a diferença, por isso, agora, quando me pedem para desempenhar um papel, eu tento sempre encontrar força nessa mulher. À medida que envelheço, os papéis que estão escritos são frequentemente aqueles de mulheres com uma personalidade forte e complicada – mas talvez haja uma razão para isso, e é essa a história que quero contar! Quando interpretei Alice Ward no The Fighter, a imprensa perguntou: “Como é desempenhar uma cabra? Eu disse que não era uma cabra e expliquei-lhes quem era a personagem, o que os fez escrever sobre ela de maneira diferente, como uma mulher forte.

 

Como é que se aproximou dela e de outras personagens verídicas?

 

Nunca tinha interpretado uma mulher com uma história real antes de Alice, o que é muito diferente de uma personagem fictícia. Fui conhecê-la, fui à cidade dela e conheci a sua família, os seus ex-amantes, toda a sua vida. Com isto, consegui informações que normalmente um actor usa na sua imaginação para criar. Quando Oliver Stone me perguntou se eu estaria disponível para interpretar Laura Poitras em Snowden fiquei encantada. Perguntei-lhe se teria a oportunidade de conhecê-la, mas ele não pensou que isso fosse possível: Laura apoiava o projecto, mas preocupava-a o facto de Edward poder ser mal representado. Enquanto filmávamos num hotel em Hong Kong, cruzei-me com ela aleatoriamente no elevador, pois ela estava lá para a exibição de Citizenfour. Subitamente, o seu retrato soou-me ainda mais genuíno. Ela não o mencionou em palavras, mas eu consegui ver nos seus olhos que ela me disse “tu consegues”, e essa permissão foi muito importante para mim.

 

Está aqui para falar sobre atuação – é algo que pode ser ensinado?

 

Para atuar, na minha opinião, é preciso ser-se um ator. Pode ensinar-se toda a gente a ler; mas não se pode ensinar toda a gente a atuar, disso tenho certeza. Mas a atuação é um processo de aprendizagem. Eu aprendo todos os dias, todas as vezes que vou trabalhar. Na verdade, eu aprendo a atuar sempre que vejo atuações!

 

O que espera do FEST?

 

Existem problemas verdadeiramente maus no meu país, a gula, talvez o mais mortal dos pecados mortais. Eu quero assumir a responsabilidade pessoal, e dizer aos jovens cineastas que não há necessidade de seguir a ideia de cinema de Hollywood, pois os milhões de dólares gastos em filmes não fazem deles os melhores. Tudo o que importa é tornar um filme verdadeiramente seu, sem pensar em como poderá fazer mais dinheiro. Estou a trabalhar num projecto para o qual espero ter um argumento escrito, portanto, talvez encontre um jovem escritor em Espinho que esteja interessado. Tenho também alguns projectos concluídos que não funcionaram, e quero descobrir o porquê, como eles poderiam ter sido feitos. Não é uma proposta para fazer um filme comigo, é uma proposta para uma conversa.

 

Então, sempre a aprender.

 

Sempre a aprender! Vim para Espinho para aprender.

 

Chiara