New Directors | New Films
Cineasta do Mês: Dimitris Argyriou
22.12.2016

É difícil pensar em cinema grego sem ser transportado imediatamente para o mundo doentio e perverso da Nova Vaga Grega, que nos últimos 10 anos ou mais transformou a Grécia num ponto de interesse para cinéfilos de todo o mundo. Mas nem todas as aventuras dos filmes gregos são tão insanas e selvagens como as visões de cineastas como Yorgos Lanthimos e Athina Tsangari. Uma dessas excepções é o recém chegado Dimitris Argyriou, que se tornou numa figura reconhecível no circuito dos festivais de cinema, com as suas curtas-metragens a encontrarem vastas audiências em eventos pelo mundo inteiro. Em Dezembro, mergulhamos mais um pouco no seu mundo como o Cineasta do Mês.

 

Deixar um entre querido ir nunca é tarefa fácil, especialmente quando muitas das nossas relações são baseadas numa lógica de propriedade. Esta é a base para a primeira curta-metragem de Dimitris Argyriou The Dinner, que esteve em competição no FEST em 2014 e imediatamente nos tornou conscientes da sua nova voz e de trazer algo de especial ao mundo. A inspiração veio de um lugar improvável: “Escrevi o “The Dinner” durante o meu serviço militar (que ainda é obrigatório na Grécia). Estava a tentar manter a minha mente ocupada com assuntos sobre cinema e queria usar todo este tempo mal gasto para produzir algo útil”.

 

Sem muitos recursos disponíveis, ele conseguiu desencadear a sua primeira experiência no mundo do cinema, depois de um grande esforço. A aposta compensou, tendo também funcionado como uma grande experiência educacional. “Enviei o guião para alguns amigos, que concordaram em ajudar-me e começamos a pré-produção. Foi uma grande honra, e também um bocado de sorte, por ter tido a oportunidade de trabalhar com actores famosos que gostaram do meu guião (e de mim) e aceitaram fazer parte da minha visão. Foi o primeiro filme em que colaborei com actores bem conhecidos e isto ajudou-me a perceber melhor como é trabalhar com actores profissionais, como é que eu tinha de ser, com o que me preocupar e também com o que evitar”.

O esforço provou ser muito maior do que aquele que tinha pensado inicialmente, enquanto o jovem artista grego aprendeu rapidamente que é preciso manter os olhos bem abertos quando trabalhamos numa indústria que tem a sua quota parte de charlatões: “Um homem da minha cidade Natal envolveu-se na pré-produção como produtor. Ele era supostamente bom em marketing e gestão, por isso ficou com o financiamento deste projecto, através de diferentes fontes. Tínhamos também grandes planos para o futuro. Mas, entretanto, este homem que eu conhecia relativamente bem era uma fraude! Uma ou duas semanas antes das filmagens desapareceu completamente! As despesas continuavam e ele ainda não tinha encontrado dinheiro, claro. Tinha de decidir se cancelaria ou não o projecto. Como estava tudo pronto, decidi cobrir as despesas por mim, usando as minhas poupanças. Como não era suficiente, o meu pai ajudou-me. Estava completamente falido depois, sem dinheiro nenhum na minha conta bancária. Mesmo assim, nunca me arrependi e voltaria a fazê-lo. Sem arriscar, não ganhamos nada”.

O sucesso do "The Dinner" foi inspirador, com um impressionante percurso pelos festivais de cinema, juntando diversos elogios pelo processo, incluindo no FEST. Mais recentemente, voltou ao circuito com uma aposta completamente diferente. “Monica” é o conto visualmente abstracto sobre uma jovem mulher da Europa de Leste forçada no mundo da prostituição, um projecto que desvenda uma nova luz sobre o mundo do tráfico humano. “Conheci a Monica verdadeira há alguns anos. Contou-me a sua história, que ficou na minha mente e no meu coração. Tinha de a tirar do meu peito. Senti uma vontade real para fazer este filme. Antes de mais, fiz uma grande pesquisa sobre o assunto e entrei em contacto com algumas organizações. Escrevi o guião inteiro e depois decidi que tinha de encontrar uma forma mais directa para contar a sua história. Torturei-me e acabei por encontrar a actual forma do filme”.

 

   

“A produção aconteceu naturalmente e foi fácil, comparado com os meus filmes anteriores. Tive sorte porque estava pronto para fazer o filme quando fui selecionado para participar como realizador no Sarajevo Talents. Decidi que, se encontrasse a pessoa certa para o papel, tal como parceiros, iria tentar filmar no local. Já sabia que só precisava de um dia de filmagens e tinha um conceito muito visual na minha mente. Cheguei lá, conheci o resto dos participantes e depois de alguns cafés, comida e bebida apresentei a minha ideia a dois deles, que concordaram em ajudar-me... Acho que na mesma noite pedi à Ivana Pavlakivic para interpretar o papel, que aceitou e juntamos o resto da equipa. Então, todo o processo de pré-produção, escolha de locais e tudo o resto demorou três dias, tudo durante o Sarejevo Film Festival, entre seminários, screenings e festas. Filmamos a curta no último dia do festival e levou apenas 4-5 horas! Estou muito grato por ter encontrado colaboradores tão simpáticos, arrojados e loucos que o fizeram acontecer em menos de uma semana. Fiz a pós-produção de volta a Berlim. Editei e tive a sorte de ter a ajuda preciosa de profissionais talentosos (e amigos) para a voz off, música e sonoplastia”.

Uma das experiências que ajudaram, com certeza, o processo de Dimitris Argyriou é o seu trabalho como programador de cinema e distribuidor, tendo não só colaborado com associações como o Shortcutz, Interfilm e Patmos Film Festival, mas ter também começado a sua própria distribuidora: New Born Short Film Agency. “É uma grande oportunidade e uma boa escola conseguir ver tantos filmes por ano. Este ano vi mais de 3.500 filmes. Estou a aprender com os erros dos outros. Agora percebo melhor como é que os filmes funcionam e do que é que as audiências estão à procura. Também percebo melhor onde estou enquanto cineasta e o valor dos meus filmes, que é um ponto muito importante”.

“Quando comecei a submeter os meus filmes para festivais, estava à procura de um expert que me ajudasse com as submissões e que conseguisse que o meu trabalho fosse selecionado. Infelizmente, não encontrei nenhum. Então, enquanto o aprendia a fazer, tornei-me um expert neste assunto e como muitos dos meus colegas cineastas me pediam conselhos e ajuda, quando voltei para Berlim, achei que este poderia ser um bom serviço para cineastas novos e “veteranos”, que não têm tempo e/ou não querem estar dentro de uma estratégia para festivais de cinema, submissões e distribuição. Então criei a New Born Short Film Agency. Está a correr muito bem e estou muito contente por colaborar com cineastas tão talentosos. O céu é o limite!”

Juntamente com todo o seu trabalho, Argyriou está actualmente a trabalhar na sua primeira longa-metragem “Death in Corfu”, um projecto que já está em construção há algum tempo. “É um thriller psicológico. A primeira apresentação do projecto foi durante o FEST Pitching Forum este ano”.

Apesar da sua jovem idade e das suas diversas experiências na indústria cinematográfica, há um estilo claro que se transforma na assinatura do realizador Grego. “Gosto de trabalhar muito próximo dos actores e de ter a câmara próxima deles. Respirar perto deles, por assim dizer. Gosto também de criar ambientes claustrofóbicos e de colocar as personagens em situações difíceis e ver como é que lidam com elas. Estou a tentar evitar usar música em geral ou usá-la num formato muito limitado, porque quero que a audiência formule os seus próprios sentimentos e não os direcionar numa determinada direcção. Vejo-me mais como um realizador Europeu (comparativamente com um realizador Grego). Tenho mais influências do cinema dinamarquês, que adoro. Depois combino pequenas partes de diferentes movimentos nacionais, em busca da minha própria linguagem visual”.

É difícil não esperar muito de Dimitris Argyriou, que se tornou – de alguma forma – num expert na indústria. Tendo seguido o seu progresso nos últimos anos, no FEST temos pouquíssimas dúvidas que num futuro próximo o seu nome será de referência, portanto mantenham os olhos bem abertos nos seus próximos trabalhos.