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CINEASTA DO MÊS | José Pedro Lopes
09.10.2017

É frequente encontrarmos no género de terror uma correspondência com padrões sociais, com certas personagens representativas que marcam o mal e o bem, como a oposição entre o conservadorismo e o mundo contemporâneo moderno.

Numa representação sincera, sabemos que esta padronização não concorda com a realidade. Contudo, numa sociedade em que não nos é permitido prever os seus actos, a ideia do que cada um representa vale substancialmente mais do que a essência do que cada um é. O antagonismo, o fatalismo e o fado reúnem-se num filme envolvido no terror, drama e humor negro, numa produção singular intitulada “A Floresta das Almas Perdidas”. Damos destaque em Outubro ao cineasta responsável por inverter o moralismo superficial através do cinema: José Pedro Lopes.

Foi de forma imprevista para José Pedro Lopes que um projecto para uma curta se transformou num êxito cinematográfico de 71 minutos. Após estreia no FANTASPORTO em Fevereiro deste ano, o filme atingiu festivais de cinema de todo o mundo, e não deixaram de o gratificar na hora da atribuição de prémios: “Esteve no festival de Sydney (Austrália) que nos engrandeceu muito, validou o projecto. Em festivais de género venceu o prémio de melhor filme na competição panorama do FANT BILBAO, um histórico do terror em Espanha. Venceu também melhor realizador no festival de cinema de terror de Manchester. Está a expandir para festivais por outros países ao mesmo tempo que encontrou distribuidores nos EUA, Suécia, Espanha, Reino Unido. A estreia em Portugal agora em outubro é também um objectivo concretizado. Em Espanha vai ser lançado pela Filmin no Halloween.”

Sabemos que José Pedro Lopes é entusiasta dos crossovers de géneros, e firma-se nesta particularidade para várias das suas produções. Contudo o terror é o que sustenta grande parte dos seus trabalhos, que estima um público muito específico e festivais próprios, sem uma considerável distribuição para o público em geral: “Por um lado o terror é um género com o seu público e os seus canais, que se defende e promove. Tem festivais próprios e distribuidores próprios. Por outro lado, é um género que é visto com muito cepticismo pelo público geral e com algum preconceito pelos circuitos ditos artísticos. Para nós dificulta um pouco: sim é terror, mas é um drama, e é um filme a preto e branco e de expressão artística. Não é fácil de o posicionar. Felizmente o público e a imprensa têm no posicionado por nós: por vezes como terror, por vezes como art house.”

“Survivalismo”, “M is for Macho” e “O Risco” são exemplos de curtas realizadas anteriormente, igualmente soturnas, com críticas tão bem insinuadas à sociedade e às suas consciências. Mas após doze curtas, esta ambição de contar histórias largas com evolução do carácter das personagens e atingir outro público que não cineastas foram motores que impulsionaram o realizador a arriscar numa longa. A ideia surgiu na secção do Pitching Forum do FEST, e o realizador reconhece a influência do festival no projecto: “Quando apresentei no FEST era uma curta com uma ideia arrojada, mas sem os "porquês" resolvidos. Do feedback no FEST fui levado a levantar questões sobre as personagens e o que acontecia. Ao responder a essas perguntas, a curta virou longa. Foi muito importante para levar o projecto mais a sério e o testar.”

O cineasta gere atualmente a Anexo82, uma produtora de cinema de género no norte do país. Apesar de trabalharem em todo o tipo de projectos, o realizador explica a relevância deste filme para a produtora: “A Anexo82 é uma produtora audiovisual que faz ficção, mas também documentário e servicing. Trabalhamos em todo o tipo de projectos, e não só em projectos nossos. "A Floresta Das Almas Perdidas" foi uma aposta arriscada nossa de nos
mostrarmos com um filme nosso - mas não é o nosso "core business".

Sabemos que Takishi Miike e a cultura japonesa são referências, e há várias marcas no filme: do cineasta japonês o filme Audition, o maior modelo; já a cultura japonesa traz ao cinema a cultura nipónica, o harakiriou, a floresta dos suicídios e até a mistura de géneros.

O sucesso deste último trabalho deu motivação ao cineasta para continuar a arriscar e a explorar a arte do cinema: “Temos vários projectos no ar, várias candidaturas que fizemos. Estamos no momento a terminar uma curta de animação stop motion chamada "A Era Das Ovelhas" do Coletivo Creatura. Pessoalmente gostava de fazer uma segunda longa com o que aprendi com "A Floresta Das Almas Perdidas": muita coisa faria melhor e com mais confiança, arriscando um pouco mais. Não acreditava que "A Floresta" fosse onde foi. Para a próxima tenho de ser ainda mais confiante e ambicioso.”

Com “A Floresta das Almas Perdidas”, o nome de José Pedro Lopes foi projectado em terrenos mais elevados. Curiosos do cinema aguardam por um novo projecto, com certeza de uma nova experiência instigante.