New Directors | New Films
Cineasta do Mês: Pedro Magano
29.09.2016

À medida que avançamos com as preparações da 13ª edição do FEST, torna-se difícil não olhar para o passado e admirar a longa lista de jovens cineastas que já passaram pelo nosso filtro, analisando no processo todos os seus sucessos e dificuldades. Como tal pareceu-nos pertinente abrir uma nova plataforma que os permitisse voltar a subir ao nosso palco para os apresentarmos, agora de uma nova perspectiva. E assim começa uma caminhada de 10 meses pelo trabalho e visão de 10 jovens cineastas merecedores de toda a vossa atenção.

Em Setembro o cineasta em foco é uma das mais impressionantes novas vozes do cinema português: Pedro Magano.

 

GALERIA DE IMAGENS DE PEDRO MAGANO E DA PRODUTORA PIXBEE

 O FEST 2016 testemunhou o surgimento de uma das mais inspiradas visões do novo cinema nacional, que eventualmente cativou o imaginário do nosso júri, e de uma forma implacável. O filme era “Irmãos” de Pedro Magano, o grande vencedor do prémio Lince Dourado para Melhor Longa-Metragem de Documentário (trailer). Numa cultura tão frequentemente mergulhada na mais profunda nostalgia, a sua visão sobre uma das mais antigas tradições espirituais em Portugal, uma romaria religiosa que vagueia pelos caminhos enublados e misteriosos da ilha de São Miguel nos Açores, é surpreendentemente uma excepção à regra. É impossível descortinar qualquer vestígio do habitual ambiente revivalista que tão frequentemente polui este tipo de obras, muito menos qualquer rastro de uma vontade de doutrinar ou impor qualquer conjunto de valores à audiência.

 

O que acima de tudo atrai a lente de Pedro Magano não é a religião propriamente dita, mas sim uma vontade de observar o lado físico e emocional de uma tradição com mais de 500 anos. O filme é “muito mais sobre a fé dos homens do que sobre a fé num deus”, comentou o cineasta.

 

Um aspecto no qual o realizador demonstrou enormes dotes foi na forma como apresenta as personagens, tal como a paisagem Açoriana, ela própria uma personagem central: “A natureza dos Açores, intocável, é como se tivesse sido pintada por Deus. O altruísmo daqueles homens e crianças que caminham 300Km a rezar por toda a gente tornam estas personagens muito interessantes e genuínas.

 

Filmamos em 12 dias. Alugamos uma auto-caravana e seguimos os peregrinos numa sua caminhada interminável. Foi muito cansativo. Começavam às 4 da manhã e só se deitavam às 10 da noite. A pós-produção durou outros 7 meses...Foi uma aposta de risco porque não tínhamos qualquer apoio financeiro. Decidimos fazer o filme e em 15 dias estávamos prontos para filmar. O que mais aprendi com este projeto é que não podemos deixar para depois o que queremos mesmo fazer em determinado momento” - acrescentou o jovem artista.

 

De uma perspectiva estética, Magano demonstrou também uma saudável procura por novos discursos visuais, misturando diferentes técnicas tal como planos aéreos e câmara lenta: “Os planos aéreos foram fundamentais para garantir que a grandeza da paisagem local se destacava e estava em constante contraste com os peregrinos. A técnica do slow-motion tem a ver com a minha intenção de tentar levar o espectador para outra dimensão, tendo em conta toda a viagem interior que cada um destes homens faz. Eles sentem algo diferente durante esta jornada tão especial...e eu quis tentar reforçar este sentimento com imagens mais "poéticas" e em câmara-lenta."

 

Apesar de toda esta confiança “cosmética”, quando confrontado com a possibilidade da existência de um estilo pessoal já bem definido, Pedro Magano não hesita: “ Não, ainda agora estou a começar. Em cada projeto, reinvento-me e descubro novas técnicas, novas linguagens. Por exemplo, agora para a curta-metragem que estou a preparar, o desafio será introduzir aspectos filosóficos na narrativa e tentar expressar isso em cada plano. Será algo muito diferente de "Irmãos".

 

Talvez um dos mais extraordinários aspetos da, para já curta mas ambiciosa carreira do realizador, é o facto de até certo ponto estar a remar contra a corrente. Enquanto a esmagadora maioria dos cineastas nacionais não encontra alternativa se não uma mudança para Lisboa, onde se concentra a maior parte dos recursos para cinema, Magano sente-se bastaste confortável no norte do país, onde a sua produtora, Pixbee, está sediada. “Nós, a Pixbee, adoramos o Porto e vamos manter-nos por cá.  Temos o nosso espaço  no mercado do norte e aos poucos temos conseguido levantar os nosso projectos cinematográficos sem grandes demoras. Mas ser um "jovem talento em Portugal" não traz vantagens se não tens um grande distribuidor atrás, por isso temos de continuar na luta e na espera.  Em Portugal ainda falta muita transparência na adjudicação de apoios públicos e penso que há poucas opções de distribuidoras independentes, para documentários principalmente. Nós estamos sempre à procura de novos talentos, quer sejam do Porto ou de Lisboa. Acreditamos no cinema colaborativo e, inclusive, estamos agora a distribuir a curta-metragem  "Vigília", de uma "outra jovem talento", Ana Mariz (ela própria uma ex participante do FEST Training Ground), que se estreou no Indie Lisboa, na sua mais recente edição. E assim começamos parcerias e novos projetos, criando uma espécie de sinergia.

 

Pedro Magano está neste momento a trabalhar num novo documentário, “Um Mar de Distância” (trailer), sobre as sepulturas de pescadores de bacalhau portugueses na Gronelândia e Canada, durante a década de 60. A produção tem já definida distribuição nacional e acordos de transmissão televisiva. Para além deste projecto está ainda a preparar a sua primeira curta-metragem de ficção, para ser produzida no inicio de 2017.

 

O sucesso de “Irmãos” seguramente abriu nova portas ao jovem artista português, cujo seu inegável talento e sede de olhar para o mundo através de uma lente são inquestionavelmente boas razões para seguir o seu percurso futuro.