Entre os programas que fazem o FEST tão especial ano após ano, destaca-se o Be Kind Rewind, um foco temático que visa destacar uma questão específica e fornecer aos espectadores novas e diferentes perspetivas sobre o assunto. As edições anteriores incluíram um olhar mais atento às cineastas femininas, que se refletiu nos dez anos do FEST ou, de facto, trouxeram de volta os cineastas cuja carreira começou no nosso Fórum de Formação ou Pitching.
Exatamente um ano após o Brexit, tendo que lidar com as novas ondas do nacionalismo e polarizar questões políticas e socioeconómicas, a Europa encontra-se numa crise de identidade. Como tal, torna-se vital refletir sobre o que significa a Europa, ou ser europeu, hoje em dia. Com a nossa propensão para reunir jovens profissionais do cinema e criar novas redes que transcendem as fronteiras, Be Kind Rewind 2017 só se poderia concentrar no Velho Continente – e é exatamente onde Off The Wall entra.
Lançado em 2014 para marcar o 25º aniversário da queda do Muro de Berlim, o projeto visa criar novos públicos, apresentando novos e desafiadores pontos de vista sobre a Europa unida que emergiram após 1989. Tal como o tema que se propõe abordar, Off the Wall está em constante evolução, respondendo às mudanças que ocorrem rapidamente e a incerteza que caracterizam estes tempos.
Os três filmes escolhidos para o Be Kind Rewind não oferecem muito descanso; pelo contrário, representam os aspetos mais obscuros do nosso tempo com uma precisão estranha. Titulado pela protagonista, Caina fala-nos da sinistra realidade acerca do destino dos corpos que dão à costa italiana. No centro deste mundo cão encontra-se a própria Caina, implacável na sua busca por livrar o país dos imigrantes.
Vindo da Espanha, The Invisible Hand é baseada numa obra de Isaac Rosa, filme com o qual o público se poderá identificar bastante. Um grupo de trabalhadores é pago para levar o seu ofício diário ao palco, criando uma produção teatral denominada "o espetáculo do trabalho", que em breve os levará a sucumbir à dinâmica de poder tão comum em muitos locais de trabalho.
Finalmente, Park incide no estado atual da Vila Olímpica em Atenas, que foi deixada ao abandono após o final dos jogos de 2004. Num país tão conhecido pelos tesouros históricos e o impacto na cultura ocidental, as estruturas desportivas obsoletas revelam-se uma metáfora que denuncia a situação política em que a Grécia se encontra.
Como mencionei anteriormente, estes filmes não são exatamente tranquilizadores, mas se procura ser desafiado, estimulado e informado, perdê-los não deverá ser uma opção.
Chiara Puntil
